11.28.2009

VSP.09 | "Eles estão a borrifar-se para as paredes da escola"

Até 13 de Dezembro, a escola abandonada na Rua das Gaivotas, em Lisboa, é o recreio de oito graffiters do colectivo VSP.

Pintar as paredes da sala com tintas de todas as cores pode passar pela cabeça de qualquer turma de alunos ensonados na aula de Matemática. Pintar os cacifos, o refeitório e o recreio da escola, sem ser expulso, parece daqueles sonhos que só acontecem quando adormecemos na aula mais aborrecida de sempre. Ou então não. A Câmara de Lisboa emprestou as chaves da escola primária abandonada há cinco anos na Rua das Gaivotas a oito dos melhores graffiters portugueses. O resultado é mais do que colorido: a 5ª exposição do colectivo VSP (Visual Street Performance), o maior evento anual de graffiti e street art do país que começou na quinta-feira.

"As casas de banho são o único sítio que não vai ser pintado", diz Leonor Viegas, 26 anos, organizadora da VSP. "Até esta sala de professores é capaz de levar uma rabiscada", confessa num dos momentos em que consegue relaxar numa poltrona velha, nas vésperas da inauguração da exposição. Leonor não é graffiter, mas é ela que trata da logística e da comunicação da VSP. "No meio destes homens todos sou eu que monto as tomadas", desabafa. E já é uma sorte haver electricidade, até porque os graffiters só aparecem para pintar à noite. Em 2008, a câmara emprestou-lhes um edifício abandonado no Bairro Alto. "Era assustador, principalmente para meninas que não gostam muito de ratos..."

Falta de material "Professora, vou levar falta de material?", interrompe o writer I am From Lx, que entra na sala para tirar uma lata de spray de um caixote. Está quase a terminar o desenho numa parede do outro lado do edifício, onde o cheiro a tinta fresca é asfixiante. No quadro de giz repousam vassouras e restos de acessórios coloridos das marchas populares. "Eles foram os últimos a usar a escola", explica Leonor. Mas é interrompida outra vez. Time, de 30 anos, quer pintar a parede do pátio da escola. "Vou levar o projector, passa-me a ficha pela janela", pede.
Lá fora, projecta um desenho na estrutura e pinta os contornos para depois preenchê-los com tinta. "Tento ir buscar ícones que me influenciaram desde puto. Este ano vou fazer o Speed Racer, da BD japonesa." Time trabalha em óptica e o graffiti é o seu "hobby favorito". O desenho do Speed Racer fica pronto mais rápido do que o esperado. Também já pintou outro ainda maior no corredor da escola. "Cheguei atrasado e por isso é que fiquei no corredor, mas deu para o que queria fazer. Três dias e ficou pronto. Pintar na rua ensina-te a seres rápido a fazer as coisas."

Falta de atraso Hibashira, mais conhecido por HBSR, de 28 anos, foi o último a chegar à escola e teve de partilhar a sala com Hium, o DJ Glue dos Da Weasel. "Vim cá há duas semanas limpar o espaço e depois nunca mais meti cá os pés", conta HBSR, enquanto devora um menu de fast-food. "Pensei: 'vou ser o mais atrasado', mas afinal ninguém tinha feito nada." A exposição estava prestes a inaugurar e ainda havia muitas paredes em branco. Hium fica na escola "até às tantas" para acabar o seu trabalho a tempo: várias telas e desenhos que representam "aqueles bonecos de papel que dão para cortar e fazer dobragens".
Os writers já estão habituados a trabalhar sob pressão. "É sempre assim. Dizemos 'este ano é que vamos bulir bué', mas fizemos a primeira reunião em Janeiro e só começámos a trabalhar nisto há menos de um mês."
Arte, mas efémera Em cada sala da escola ouve-se um estilo de música diferente. HBSR e Hium preferem pintar ao som de drum'n'bass. Klit gosta de música mais pesada. "Dividi a minha sala com o Mar. No outro ano fiquei com o HBSR mas ele é um bocadinho problemático", ri-se. "O trabalho dele tem projecção de vídeo e a sala tem de ficar às escuras." Klit preparou cinco telas para a exposição porque, como estuda e trabalha, não tem "tempo para pintar muita coisa". "E nunca preparo nada sem antes sentir a sala", explica. Hium parece que está num ateliê de arquitectos, mas em vez de maquetas tem telas e latas de tinta em cima da mesa. Mosaik, de 33 anos, pintou sapatos de salto alto que pôs em vitrinas. Vhils esburacou a parede até criar caras.

A ideia de que o graffiti é apenas um bando de miúdos a pintar nos muros dum bairro nos subúrbios desaparece facilmente. "As pessoas que chegam à exposição ficam surpreendidas", afirma Klit. "Dizem logo que isto não é graffiti, é arte."

Uma arte efémera. Depois da exposição, os oito graffiters voltam a pintar as paredes de branco e a tapar os seus desenhos, como acontece na rua. "Não queremos que depois usufruam das nossas pinturas", explica HBSR. E a Escola das Gaivotas volta à sua vida triste e incolor.


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4 comentários:

Shangaitrip disse...

Já sabem quando vêm ao Porto?
Eu adorava ir ver a vossa 'exposição', mas sós erá possível se vierem ao Porto. (Eu li no site que sim...)

--- avião de papel --- disse...

brutal (:

I am from Lisboa disse...

Falta-me confirmar a data, mas sim, a VSP vai subir até ao Porto. Assim que tiver datas concretas eu aviso.
Obrigado!

Maria Imaginário disse...

:) <3