12.21.2010

Garota do Leblon

Ela tem cintura de bailarina e pernas que parecem asas e caminha de havainas com a elegância gingada de uma princesa no areal. Menina bonita, capaz de muitas coisas sem precisar sequer de falar. Homens e mulheres apaixonaram-se pela sua fotografia no Facebook ou em noites de sakerinhas e maconha que dá tesão e roupa colada no corpo como sacanagem num baile funk. Ela aparece nos botecos depois da praia e todas as miúdas param de falar dos seus terapeutas e dos seus iPhones, os empregados erguem as bandejas como se batessem palmas e o chopp na boca dos homens transforma- -se em água de coco. Ela gosta mais de música do que de livros, tem sempre conversa para o porteiro do prédio e nunca cozinha em casa. Um escritor playboyzinho dedicou- -lhe um conto, mas quando a vê na praia e diz "E aí?", ela responde apenas "Tudo bem", e entra nas ondas, convicta de que é por causa de homens assim que o topless ainda é proibido no Rio. Ela corre atrás de quem quer, não segue as regras dessas meninas de família com os seus peitinhos de bisturi, meninas com compostura de filhinha de papai e de futura mulher fiel, mas que também gostam de esfolar os joelhos em lençóis de motel. Ela bebe cachaça Magnífica e disse a alguém: "Cala essa boca e me beija." Era de manhã cedo quando ela passou por mim segurando um suco de melancia, o cabelo molhado do duche, pernas tão longas como a corda de um enforcado. Com o cérebro encalhado na fascinação, não fui capaz de mais nada se não: "E aí?" Ela sorriu: "Tudo bem." E foi então que soube que a tinha perdido para sempre.

Hugo Gonçalves in "Jornal i"

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