Com a primeira explosão o córtex ficcionista do meu cérebro disparou e pensei que os traficantes invadiam o Leblon. Porque a pólvora continuou a estalar na tarde do Rio, imaginei grã-finas plastificadas e meninas turbinadas fugindo enquanto seguravam as carteiras de marca. Nada disso. Era futebol e fogo-de-artifício. Na rua parecia haver um uniforme oficial para homens e mulheres: camisola do Flamengo (ainda que aqui camisola seja camisa de noite). Tratava-se da apresentação de Ronaldinho-finta-de-vírgula, que assinou pelo Mengão durante quatro anos - o jogador mais caro de sempre do clube. Vinte mil pessoas no estádio, sambistas, invasão do palco e quase porrada entre as claques do clube. Tudo isto num dia de semana. E a festa só não foi mais carnavalesca porque o jogador rejeitou um passeio de autocarro pela cidade; afinal, é uma contratação, não é a copa do mundo. O taxista, do Botafogo, falou de Ronaldinho. O empregado do boteco, do Vasco da Gama, também. Lembrei-me do primeiro dia da minha visita inaugural a esta cidade, quando vi na televisão Ronaldinho, então jogador do Barça, arrancar os rins da defesa do Real Madrid, marcar dois golos e ser aplaudido pelos adeptos rivais. Quando o taxista perguntou qual era o meu clube no Rio, respondi que bola é paixão e a minha namorada eterna é o Benfica. Mas se o dentuça, agora com 30 anos, voltar a tratar defesas como se fossem bonecos num museu de cera, talvez o Flamengo substitua o Estoril Praia como segunda equipa no meu coração de futebolista adiado para todo o sempre.
Hugo Gonçalves in "jornal i"
1.14.2011
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