Quando os navios ingleses começaram abordar os barcos portugueses, a fim de fiscalizar o tráfico de escravos, conta-se que as frotas lusitanas mandavam uma embarcação na frente, com mercadorias legais, para ludibriar os bifes. Assim terá nascido a expressão: "Para inglês ver." Os tempos mudaram e o inglês passou de agente fiscalizador a fazer parte do nosso dia-a-dia: palavras em conversas - cool, fashion, kinky -, nomes de discotecas - Silk - restaurantes - Guilty - ou ginásios - Envy.
Um centro comercial tem um fashion spot, um café tem wireless e entrar em casa para descobrir a mãe e o pai numa festa swinger pode ser considerado de mau timing. Somos mais espertos com smartphones e mais fit por causa das aulas de cycling. Gostamos de humor non sense e de zapping. Mas o inglês tornou-se, mais que tudo, em algo para português ver. (Mais ou menos como a moda de pôr um "k" para mostrar tão diferentes e kool que somos - há uma sex shop chamada Koisas Dadultos.)
O inglês parece agora pau para toda a obra, o bar da moda, o elemento atractivo que nos levará a comer no Ocean, a treinar no Fitness, a ter um pack internet/TV. Eu não me importo que as línguas se misturem - de línguas misturadas já resultaram muitas coisas boas. Mas não me cai bem que o inglês - idioma que gosto - seja usado como técnica de marketing para vender o português - língua que gosto muito -, como se aquilo que somos não fosse suficiente. E eu, que ganho a vida com palavras, vos digo: a nossa língua é boa de mais para que a tratemos como o primo parolo que chegou à cidade.
Hugo Gonçalves in "Jornal i"
7.04.2011
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2 comentários:
Gostei muito do texto. Estes estrangeirismos já não são de hoje o mesmo se passou com o francês..tournee, toilette, soutien,r eveillon.. Enfim os Portugueses pensam que são mais "In" ou é mais "Cool" o uso deles deixa-os usar!!
Eu partilho a mesma opinião! no entanto usamos vários também como Cap, Spot, Rooftop... ;)
É bem verdade..
Já vi esta nossa internacionalização com melhores olhos. Eu respeito, e sempre respeitei muito a língua Portuguesa. Tem uma identidade, alma e raça que muitas outras não sabem sequer o que é. A questão é que hoje somos cidadãos do Mundo e quando "importamos" o que é estrangeiro, deixa-mos de nos "importar" com o nosso património.
Podemos sempre é tentar arranjar o melhor compromisso entre os dois Mundos, sendo sempre fiéis às nossas raízes.
Eu sou de Lisboa e o meu esforço vai no sentido de a mostrar e dar a conhecer ao Mundo.
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