1.13.2014

Devíamos gritar mais vezes Golo.

É das coisas mais inexplicavelmente belas da vida.
Aqueles golos importantes. Aqueles dos jogos decisivos, dos jogos acesos. Aqueles dos clássicos ou aqueles das finais.
Aqueles em que a energia concentrada nas unhas roídas, nos pés de baterista, nos corações encolhidos e nos estômagos inchados sai disparada para os braços e voa.
Aqueles golos que são gritados com mais voz do que a nossa.
Em que nos viramos para qualquer lado, não vemos nada.
Abraçamos os desconhecidos, beijamos os conhecidos e sorrimos. Porque foi golo.
Porque foi um alívio e um prazer.
Porque foi para aquilo que ali fomos.

Imagine-se na vida. A gritarmos golo, com toda a vontade de um daqueles golos, quando não houve golo algum.

Quando acabamos o curso. Um professor a dar-nos a notícia e nós a gritarmos Curso, de punhos cerrados. A correr para os colegas, que se atropelam nas bancadas para nos dar um abraço e berrar connosco.

Quando a mulher da nossa vida diz sim. Nós a corrermos de um lado para o outro, em círculos
Camisola na cabeça
Largados à alegria.
Violinos e conjuntos de sopros.

Quando nasce o nosso filho. Nós nos corredores brancos a gritar FILHOOOO! A abraçar os médicos e as enfermeiras, incrédulas.
Todos aos saltos.
Nós a fazermos o gesto de embalar, finalmente no momento mais certo possível.

E nem tinha de ser apenas nos momentos unanimemente importantes.
Nós a encontrarmos o Tavares na rua, depois de anos sem o ver. A gritarmos para os desconhecidos
É o Tavares, que não vejo há uma porrada de tempo! O Tavares, pá!
E os desconhecidos a festejar e a agitarem as bandeiras.

Podíamos sorrir mais. Podíamos abraçar-nos e cantar nas mesmas cordas vocais. Podíamos abrir os braços e fechar os dedos. E depois sentarmo-nos à espera do próximo.
Podíamos sentir mais.
Podíamos gritar mais vezes Golo.
 João Madeira da Silva