12.14.2008

Que é feito de nós?

Em Portugal gosta-se muito de dizer que lá fora é que é bom e lá fora é que dão valor às nossas coisas e que lá fora não acontece nada disto. E eu – que já estive lá fora algumas vezes – quer-me parecer que os outros países fazem exactamente o mesmo que o nosso . Ora, sendo isto uma imitação e facilmente percebendo que uma imitação é sempre – antes de tudo – um elogio, pode-se começar por dizer que Portugal pode não ser assim tão mau.

Mas isto já vem de longe, dos tempos do liceu, da 4ªclasse do antigamente, em que o mau comportamento na sala de aula era fortissimamente repreendido com um severo aviso da professora: “Olhe que se continuar assim vai lá para fora!”. E ao perceber que se assim continuássemos, saímos dali e íamos lá para fora, nós continuávamos caramba e fazíamos pior ainda. E sendo assim, a professora ponha-nos lá fora sem que precisássemos de qualquer documentação. E nós íamos. Íamos lá para fora, em busca de uma nova vida que não teríamos encontrado aqui, nem muito menos na sala de aula. Daí que não foram poucos os que se aproveitaram disso para se entregarem a outros países como quem dorme fora de casa, para comprar cigarros, na esperança de um dia voltar à sua. Se bem que normalmente quem sai de casa para comprar cigarros, na maioria das vezes, nunca mais volta. Ainda se fosse outro produto, agora cigarros, é complicadíssimo.

Às vezes penso que Portugal terá emigrado para um desses países e quem cá esteja sejam outros em vez de nós e que precisamente por isso, não têm aquele apego que normalmente as pessoas nascidas e criadas num sítio costumam ter(...) Daí que eu queira saber onde estamos nós, quem nos terá raptado, quem são estes que agora andam por aqui a fingirem ser portugueses? Já reparam que agora no supermercado é só roupas espanholas? Cervejas alemãs? Queijo francês? Móveis suecos? Telemóveis finlandeses? Computadores japoneses? Já reparam nisto? É óbvio que isto só está a acontecer, porque não somos nós que estamos cá. São outros que eu não sei quem são. Porque nós, nós estamos há muito lá fora. Desde que fomos expulsos da tal sala de aula.

Fernando Alvim

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