12.17.2008

Vontades

A vontade perdeu-se! Esqueci-me dela na preguiça de dias e noites com pouco para pensar, e quando voltei, já lá não estava. Encontra-me às vezes, sozinho pela rua, e diz-me que já volta. Ainda tento correr atrás dela mas, pouca sorte, esgueira-se pela curva da primeira esquina que dobra a favor do vento, e deixa-se levar para outras paragens. Mentirosa!Onde é que andas? Onde é que foste? Também fugiste?
(Mas porquê?)
E deixaste-me aqui…Achas bem?
(Sem ti!)Procuro-te sempre por baixo do branco das folhas antes de as amarrotar.
(Em branco!)Nunca estás lá. Abro um livro e ponho-me na fila das palavras até me esquecer do tempo. Sigo-as e acabo a vê-las passar. Esperava-te na ponta da caneta e tu nem apareceste. Não tínhamos combinado.
Eu sei!
Nunca tive sequer oportunidade para isso. Vinhas sempre do nada, nunca percebi bem de onde, tropeçava no momento e sentia a tua presença abrupta e repentina. Esmagavas-me com delicadeza, e na soma dos segundos, os contornos ganhavam forma e sentido a cada letra que puxavas lá do fundo, do baú da magia, dos truques e daquelas palavras caras que só tu sabes onde enterraste. Já me virei do avesso e nada! Nem vê-lo...Não te peço que voltes, apesar de o desejar desavergonhadamente. Mas vai aparecendo, dá notícias, faz-me um sinal..(...)

Hoje vi-te ao fundo, na ponta do arco-íris de um dia de sol com pingos de chuva.
Ainda tenho saudades tuas!
Dás-me vontade...

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