É das coisas mais inexplicavelmente belas da vida.
Aqueles golos importantes. Aqueles dos jogos decisivos, dos jogos acesos. Aqueles dos clássicos ou aqueles das finais.
Aqueles em que a energia concentrada nas unhas roídas, nos pés de
baterista, nos corações encolhidos e nos estômagos inchados sai
disparada para os braços e voa.
Aqueles golos que são gritados com mais voz do que a nossa.
Em que nos viramos para qualquer lado, não vemos nada.
Abraçamos os desconhecidos, beijamos os conhecidos e sorrimos. Porque foi golo.
Porque foi um alívio e um prazer.
Porque foi para aquilo que ali fomos.
Imagine-se na vida. A gritarmos golo, com toda a vontade de um daqueles golos, quando não houve golo algum.
Quando acabamos o curso. Um professor a dar-nos a notícia e nós a
gritarmos Curso, de punhos cerrados. A correr para os colegas, que se
atropelam nas bancadas para nos dar um abraço e berrar connosco.
Quando a mulher da nossa vida diz sim. Nós a corrermos de um lado para o outro, em círculos
Camisola na cabeça
Largados à alegria.
Violinos e conjuntos de sopros.
Quando nasce o nosso filho. Nós nos corredores brancos a gritar FILHOOOO! A abraçar os médicos e as enfermeiras, incrédulas.
Todos aos saltos.
Nós a fazermos o gesto de embalar, finalmente no momento mais certo possível.
E nem tinha de ser apenas nos momentos unanimemente importantes.
Nós a encontrarmos o Tavares na rua, depois de anos sem o ver. A gritarmos para os desconhecidos
É o Tavares, que não vejo há uma porrada de tempo! O Tavares, pá!
E os desconhecidos a festejar e a agitarem as bandeiras.
Podíamos sorrir mais. Podíamos abraçar-nos e cantar nas mesmas cordas
vocais. Podíamos abrir os braços e fechar os dedos. E depois
sentarmo-nos à espera do próximo.
Podíamos sentir mais.
Podíamos gritar mais vezes Golo.
João Madeira da Silva
1 comentário:
Nice
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