Lá fora está nevoeiro, cá dentro, assim-assim.
Vê-se o fundo do peito mas é preciso espreitar com força e jeito, até saír o fumo todo da frente.
O dia começou com comichão por dentro, daquela que se coça muito e faz ferida. Valeu um ou outro raio de sol a lamber-me a cara ao de leve, e dar os bons dias quase sem querer.
O autocarro estava todo embaciado (parecia eu). Pessoas aqui e ali, mais aqueles corajosos que mesmo havendo lugar, preferem "esticar as pernas" (é de Homem e fica bem).
Sentou-se uma janela ao meu lado, e fui o caminho todo a procurar-te por onde o vidro me deixava ver.
Guardei o pescoço no casaco e saí para a rua com o que me sobrava da cara. Depois de chegar fui queimar a língua com o café e um cigarro mal aceso, que mal me soube. (Deitei fumo o dia todo).
Passei a manhã sentado contigo em bancos de jardim, onde já é primavera, e as flores perdem e fazem perder a vergonha. Levei-te a meia dúzia de músicas, das que ficam a cantar em tom que aconchega sem dó. Almoçámos os dois, num daqueles lugares onde se come o bom aspecto e se sai satisfeito. A conversa foi boa, e a sobremesa também.
Deixei a tarde passar sem pressa, e voltei para casa sem chave.
Lá em baixo dei aqueles dois toques do carteiro.
Respondi que sou eu, e perguntaram-me "Eu quem?". Vai na volta a voz mudou e eu não dei por nada...
Entrei no quarto e pousei o peito e a tarde em cima da cómoda. Descalcei o frio á pressa, e sentei-me aqui a amontoar palavras com a ponta dos dedos.
Quando escrevo, o coração corre depressa.
Cá dentro faz calor, lá fora, assim-assim.
12.14.2010
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