Meu caro, sei que o dia Fernando Pessoa (o teu dia) foi na passada terça-feira e é bem possível que estas palavras, que pretendem dar-te os parabéns por teres morrido há 75 anos, cheguem fora de tempo. Desculpa o atraso, mas a semana começou mal. Os catalães varreram a relva com o Mourinho e o nosso país repetiu o espanto e a melancolia da tarde em que D. Sebastião tropeçou na écharpe e foi contra a espada de um sarraceno. Depois há a crise, uma espécie de saco de plástico colado nas nossas caras num dia em que a chuva é o chicote do vento. Para não falar dessa coisa do WikiLeaks, tanta informação revelada sobre o que os americanos pensam da altura de um presidente e a saúde mental de uma presidenta. Não consigo explicar-te melhor o que se passa, porque andamos muito confusos como as tuas múltiplas identidades, mas posso dizer-te que este é um óptimo período para que a verdade passe a ser mais importante do que tem sido. Há muita gente que não quer continuar a ser tola, gente que sabe que foi enganada mas mantém a ingenuidade necessária para acreditar que há maneiras decentes de aproveitar a vida. Fica a saber que estes são tempos estranhos, mas decisivos. Por isso eu e a malta do bairro vamos começar um movimento associativo e precisávamos de uns slogans. Uma vez que fizeste aquela coisa para a Coca-Cola, aqui há uns anos, talvez pudesses criar umas palavras de ordem. Nada de muito metafísico nem a falar de rebanhos. Podias fazer um rap. Não temos é dinheiro para te pagar, mas pensa bem porque se aceitares a poesia voltará a estar na rua.
Hugo Gonçalves in "jornal i"
12.03.2010
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