Tudo o que tem sucesso não vale nada. Bom era quando ninguém os conhecia, quando éramos só nós que os sabíamos como se isso fosse um segredo que a poucos revelávamos. Não é à toa que as crianças têm mais graça e à medida que crescem a vão a perdendo. O sucesso é um adulto grande. O percurso que trilhamos para o atingir é uma criança pequena.
Vejam bem o exemplo do alpinista João Garcia e reparem só: o que as pessoas dão mesmo valor, é o percurso que este fez, as privações que passou, o tempo que terá demorado a pensar no que ali estava a fazer, sem fazer a barba, sem ver a Praça da Alegria, sem os telejornais do Mário Crespo, até chegar ao topo do Kilimanjaro ou do Everest ou da serra do Marão ou ao sótão lá de casa, aquele bocadinho, vamos cá ver, aquele bocadinho, ninguém lhe dá muita importância.
E esse é o problema do sucesso, não ser o caminho mas o fim. Daí que a fórmula do sucesso seja estar sempre a caminho, como se não tivesse acontecido. Mesmo que o saibamos, continuar a andar como se nada fosse. Como se nos tivesse saído o Euromilhões, e continuássemos no outro dia a vender jornais no quiosque. Aliás o sucesso está cheio de outros problemas arreliadores e um deles, é uma coisa muito chata: a inveja. Nada como o sucesso é tão gerador de inveja. Nem uma barragem produzirá tanta electricidade quando comparado a isto. Vamos cá ver, ninguém tem inveja de um pobre coitado que nunca conseguiu nada. Mas de alguém com sucesso, Deus nos livre. As críticas sucedem-se tal e qual como acontece com os ricos. Sejamos claros, alguém de sucesso é uma pessoa rica. Alguém que atingiu o sucesso de forma muito rápida é um novo-rico, que é ainda pior. Porquê? Porque sabemos o que pensam as pessoas dos ricos e dos novos-ricos: que enriqueceram de forma ilegal. Do mesmo modo que assim pensam para quem atingiu o sucesso: que não trabalhou nada para o atingir, que perdeu o interesse e que deixou de se esforçar depois de o ter, que na verdade tudo terá acontecido por acaso, por mera sorte.
Há pessoas que nunca atingiram o sucesso com medo disto: de passarem a não valer nada. E assim, fazem discos só para os amigos, livros só para meia dúzia de intelectuais, filmes para duas ou três cadeiras. Porque há um sucesso que é admissível – é verdade isto - o que não enche as salas nem incomoda, o que não provoca inveja porque também não faz grande mossa, o que é um sucesso só para aqueles e não para todos, resumindo isto que já se faz tarde: o que não incomoda. Pois quando isso acontece, quando o sucesso é tão grande que todos o conhecem e aplaudem, então não tenho dúvidas, o sucesso não vale nada.
Fernando Alvim
12.15.2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário