Caros rapazinhos que no metro falavam sobre a urgência do regresso do ditador do Vimieiro: talvez vocês não percebam como se escangalha um país com uma ditadura pacóvia, mas disto certamente percebem: Facebook - onde uma amiga escreveu que ouviu das vossas bocas adolescentes: "Era [Salazar] quem havia de conseguir resolver isto tudo e acabar com a crise." A minha amiga acrescentou: "Onde é que eles vão buscar estas ideias?" Eu não estava lá, no metro, mas graças a uma rede social, que tantas vezes contribui para a procrastinação, tenho tema de crónica. E como estou mais para castigador do que para investigador social, pouco me interessa onde vão buscar as ideias. Na impossibilidade de vos dar um calduço, quero dizer que Salazar jamais aprovaria as horas que vocês passam na companhia de sites porno e que tatuagens, piercings e esses barretinhos modernos de Johnny Depp nunca seriam permitidos na Mocidade Portuguesa - instituição que acabaria com as noites de aspiração de shots, mastigação de pastilhas do amor químico e sexo muito antes do casamento. E depois havia a PIDE, uma malta que gostava de conviver com rapazinhos que partilham opiniões políticas em voz alta no metro e que escrevem o que lhes apetece nos comentários dos jornais. Caso não tenham percebido, fiquem a saber que Salazar nunca trocaria as suas botas perpétuas por ténis Gola. Salazar era chato, não tinha pausa, não ia a festivais de Verão. E se isto não vos serviu de incentivo para deixar de dizer disparates, comecem a preparar esses cachaços para uns valentes calduços.
Hugo Gonçalves in "Jornal i "
1.21.2011
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