Francisco tinha a puberdade inquieta no avesso da braguilha e apagava sempre o histórico da internet não fosse alguém ler no motor de busca "Teen lesbian amateur". O rapaz enamorava-se de actrizes de novela, anúncios de revista, coleguinhas que não estavam nem aí para as conversas de bola e skates e técnicas de masturbação. Beijava a almofada como quem vai ao ginásio e tinha sonhos molhados que o obrigavam a lavar os boxers no banho, antes da escola, cabeça baixa e pupilas incapazes de focar a mãe ao pequeno- -almoço. Lembrava-se de, aos cinco anos, saltar para uma cadeira, baixar os calções e, maravilhado pela surpresa de uma erecção, ter dito durante um jantar: "Está tão grande..." Pela prática de exibicionismo, ficou de castigo. Desde então tranca a porta do quarto e ninguém o vê nu, nem mesmo nos balneários da Educação Física. No recreio da manhã, a matulona do 9.oC, que já fumava e usava os soutiens da mãe, aproximou-se dele: "Vem lá fora." Entre dois carros estacionados, Francisco sentiu o peito dela junto do coração e uma língua molhada, saliva de pastilha elástica e Português Suave. Durante todo o primeiro período, no intervalo da manhã, ela treinou com Francisco os beijos que queria dar aos rapazes mais velhos. Ele não se importava e, sem ciúmes, celebrava o privilégio de beijar alguém todos os dias. Quando ela decretou o fim dos encontros, ele não chorou porque estava grato. E dessa vez foi ele que a agarrou, seguro nas mãos e nos lábios, feliz por ter descoberto o espantoso engenho de felicidade que são os beijos na boca.
Hugo Gonçalves in "Jornal i"
2.11.2011
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