2.28.2011

Conflito de Gerações

Os primeiros filhos da democracia já não são os meninos que vocês guardam no coração e nos álbuns. Somos adultos, pagamos contas, fazemos pela vida como vocês fizeram quando em Portugal faltava pão nas mercearias e a roupa do irmão mais velho passava para os filhos seguintes.Já somos do grupo dos grandes e estamos a mudar de pele, a mudar de vida. Só agora percebemos que somos uma geração. Há passado suficiente para juntar a malta: a "TV Rural", os sanjo, o tulicreme, telefones de disco, o "Independente", manifestações estudantis com o rabo de fora, viagens de finalistas, primeiro emprego, primeiro filho, segundo carro, viagens low cost, internet no telemóvel e a surpresa (?) da crise, o chão a fugir, a inevitável mudança de peleNisto de ajuntamentos sou como a frase batida de Grouxo Marx: "Não quero pertencer a um clube que me aceite como membro." Mas as gerações são como as famílias. Não se escolhem. E, como acontece nas famílias, há este desentendimento, uma discussão sobre partilhas quando o cadáver ainda está vivo. Gosto de conflito, faz as coisas andarem para diante. E faz parte do processo de evolução o filho criticar o pai por ter espatifado as poupanças ou a mãe acusar a filha de ser queixinhas e de viver em casa dos pais. Há assuntos em que nunca estaremos de acordo. E as coisas vão piorar antes de melhorar.

Mas haverá um momento em que teremos de baixar o dedo acusador e arregaçar as mangas. Espero que esteja para breve. Até lá, o que faz falta é acordar a malta. E esse é o nosso trabalho, percebem?

Hugo Gonçalves in "Jornal i"

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