O pai já não a vai buscar à discoteca, a data de nascimento permite-lhe comprar álcool, a maquilhagem fá-la parecer uma capa de revista apurada com photoshop e o vestido é mais ousado do que aqueles que, há uns anos, ela punha às bonecas loiras. No entanto, ela tem cara de menina - mesmo que lhe passem a ganza assim que entra no carro das amigas ou beba shots com a destreza de garganta de um amante do bagaço.Ela tem pretendentes no Hi5 e no Facebook, já lhe pediram fotos sem roupa pelo messenger, e tecla com os dois polegares nos dois telemóveis que guarda numa carteira de marca. Vê televisão no computador, não precisa de fazer ginástica, masturba-se sem sentimentos de culpa e nos dias de ressaca dorme até ao final da tarde.Já provou pastilhas, MDMA e cocaína. Começou cedo na escalada das substâncias que alteram a consciência e a pele, e agora acha que sem elas não se poderá divertir ou ser atraente.Nas festas de música electrónica encosta-se nas colunas de som para experimentar o baixo a estremecer-lhe o interior do corpo. Quer sentir alguma coisa, quer sentir ainda mais coisas, quer que a achem especial como as miúdas nos filmes de vampiros ou nas entrevistas de red carpet - numa rave dançou em topless, um piercing no mamilo.Ela diz que é boa aluna, que vai tirar um mestrado e que o seu cérebro é infalível. O que ela não sabe é que os carros se despistam, que o sangue é vulnerável a overdoses e que nunca irá conseguir que todos sejam seus fãs. Espero que consiga aprender tudo isto a tempo de não falhar a curva.
Hugo Gonçalves in "Jornal i"
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