5.27.2011

"Sobre os Outros"

Ouvi alguém dizer que tal músico era bom, até um dos melhores, mas... Há sempre um "mas", há sempre algo de mal a dizer sobre o carácter ou o talento de quem brilha e faz bem o seu ofício, há sempre um pai rico ou uma subida à custa de sexo oral. Tudo serve, até porque haverá sempre qualquer coisa para embaciar o lustre. É um hábito muito humano e muito português.

Tendo em conta a falta generalizada de brio e de cuidado na execução das coisas importantes e das coisas prosaicas, tornou-se costume que tudo esteja atrasado, mal amanhado e inacabado. Essa é a norma, o marasmo que se deseja. Logo, amaldiçoado é aquele que nos obriga a trabalhar mais e nos faz ter consciência de como empurramos tudo com a barriga e de como fazemos demasiadas coisas com os pés. Qualquer psicólogo de pacotilha diria que quem retira mérito aos outros, atribuindo-lhe falhas, está a esconder a sua falta de mérito. Todos temos insuficiências, apontá- -las é fácil. E sabemos bem que a inveja se dá melhor em Portugal do que as plantações de eucalipto. Mas fazer prática constante dessa inveja mesquinha, ou seja, querer que o outro não tenha, é uma doença que seca e impede o talento e a mudança, que empurra pessoas boas para fora do país, que contamina a felicidade. Quando aprendermos a celebrar o sucesso e o trabalho dos outros, sem necessidade de mandar abaixo porque sim, quando aprendermos a ser felizes com a felicidade dos outros, é sinal de que já subimos mais um nível na escala de evolução. Então será mais fácil ser melhor do que temos sido até agora.

Hugo Gonçalves in "Jornal i"

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